Acreditamos em um Deus providente, presente em nosso meio. Mas ao mesmo tempo, enfrentamos uma pandemia.

Por que Deus permite algo assim?

Estamos experimentando não só a fragilidade física e moral de nossa realidade, mas também o limitado de nosso entendimento e o quão insondáveis são os caminhos do Senhor[1]. Um dia veremos face-a-face[2] e tudo nos fará sentido.

De todo modo, são Paulo afirma uma grande verdade: “Deus coopera em tudo para o bem daqueles que o amam“[3]. Como diz santo Agostinho “Deus Todo-Poderoso… nunca deixaria qualquer mal existir em suas obras se não fosse bastante poderoso e bom para fazer resultar do mal um bem.“[4]

Ele nunca prometeu que não haveria cruzes em nossa vida, mas sim que estaria conosco todos os dias, até a consumação dos tempos[5].

Assim, Deus segue atuando e realizando a salvação mesmo num tempo de pandemia, devolvendo bem, como diz o Pe. Kentenich, as jogadas mais tortuosas que a vida nos traz.

Basta recordar as palavras de José do Egito, aos seus irmãos: “Não tenham medo… O mal que tiveram intenção de fazer-me, o desígnio de Deus o mudou em bem… para salvar a vida de um povo“[6]. Ou mesmo recordar o maior mal da história, a morte de Jesus na cruz, que foi revertida por Deus no maior bem de todos: a Salvação.

O Pe. Kentenich também soube buscar nas experiências de cruz a presença e os caminhos de Deus. O movimento de Schoenstatt, nasceu como filho da Guerra[7], e aos congregantes dizia: “Segundo o plano da Divina Providencia, a grande guerra deve converter-se em um meio extraordinariamente proveitoso para a nossa santificação“[8].

Sua fecundidade nos tempos do nacional-socialismo, seus anos no campo de concentração de Dachau e no exílio são outros exemplos dessa realidade, onde sempre manteve uma confiança filial. “Deus é Pai, Deus é bom e bom é tudo o que Ele faz!“. “Nunca me enviarás cruz, sem me conceder forças abundantes para o suportar“[9]

A doença e o luto continuam sendo experiencias dolorosas, e o mal continua sendo um mal. Mas Deus permanece conosco, trabalhando por nossa salvação e dando sinais de sua presença. Pensemos no cuidado dentro dos lares, as renovadas formas de oração e de ser igreja, os gestos de solidariedade e caridade, pessoas ressignificando a própria experiência de fé, atitudes heroicas de profissionais entregando-se a serviço dos demais, tantos enfermos unindo-se á cruz de Cristo na esperança da cura e da ressurreição…

De todo modo, o fundador nos alerta que no teatro do mundo também o diabo atua como personagem, e tenta tirar proveito dessas situações, em atos de grandes e pequenas corrupções, nas brigas sem sentido, nos gestos de egoismo e indiferença, com exacerbado sentimento de culpa, medo, desesperança, etc.

Nós também somos atores fundamentais nessa trama, convidados a colaborar nos caminhos da divina providência, como livres instrumentos.

“Ajuda-me a oferecer minhas frágeis mãos ao Senhor. Encontro-me entre dois grandes poderes que se condenam: Em plena liberdade, me decido novamente por Cristo“.[10]

Somos chamados a dar nosso sim, como Maria, de corpo e alma, para cooperar com os desígnios que Ele tem para o tempo que vivemos. Que desejas de mim Senhor? Que queres que eu faça aqui e agora? Traduzindo tudo isso em propósitos e atitudes concretas, auxiliados pela Graça de Deus.

Nada sem Vós, nada sem nós!

Desse modo, em tempos de pandemia, se faz possível viver não só uma fé magica, mas, em aliança, uma Fé Pratica na Divina Providência.

“Contigo atravessarei noites e trevas, porque Teu amor sempre vela por mim“[11]

Pe. Vitor Hugo Possetti

Santuário de Olinda e Recife – PE

[1] Rm 11, 33 [2] 1Cor 13 [3] Rm 8,28 [4] Catecismo da Igreja Catolica 311 [5] Mt 28, 20 [6] Gn 50, 19-20 [7] Instrumento de María, p 44-45 [8] Bajo la protección de María, tomo II, p. 153-158 [9] Rumo ao Céu, 393 [10] Rumo ao Céu, 241-242 [11] Rumo ao Céu, 400